20 de outubro de 2008

Do Coração

Alguma coisa em que acreditar.
Por um momento,
um instante.
Por uma eternidade.

Alguma coisa em que se espelhar.
Um mundo, uma nação,
uma vida.
Uma mão.

Algum instante de união...
Que alma, que preciosidade pode testemunhar
a vida?

Algo comum no mais estranho dia
dessa existência.

6 de outubro de 2008

Conto de Fadas moderno...

O casal está sozinho.
Empolgados, respiração acelerada...
Ele fala:
- Vamos amor, chegou a hora!
- Será? Ai espera... tô nervosa...
- Nervosa? Mas amorzinho eu te adoro, a gente já confia um no outro...
- A... acho que sim... mas é que tem que pensar bem, não é assim...

Enquanto ela está confusa e com medo, ele está decidido, esperou muito por esse momento.

- Vamos lá minha lindinha, confia em mim...
- Calma, calma...

Ele está com a caneta na mão, querendo assinar e ela relutante, achava que tinha que ter mais certeza.

O contrato da compra do apartamento nunca saiu.

D.A.

26 de setembro de 2008

Ela sempre esteve aqui

O medo da morte é também o medo
da solidão.
Quando a sua hora chegar
(E ela sempre chega)
Você irá sozinho.

Se você se machucar gravemente,
E a morte te visitar,
Somente você a verá.

Se você estiver num leito de hospital,
E ela chegar,
Somente você ela levará.

Por mais que as pessoas à sua volta
queiram de alguma forma
te ajudar,
Você estará sozinho.

Não há como prever
o que se passará...
Apesar de tantos tentarem.

Não há como levar algo
ou alguém,
para conversar.

Sozinho.

Por isso, não tema a solidão.

Sinta-se desde já,
confortável nela.

D.A.

24 de setembro de 2008

Dia 18

O pai não consegue evitar gritar ao telefone com a filha:

- O QUE? Como assim você vai largar o emprego e virar garçonete em Cancun?

Ele, sente pontadas no peito.
Ela, desenha margaridas na borda do caderno.

- Ah... É isso aí pai... já vendi o resto das móveis do apê e comprei hoje a passagem... é pro dia 18.

- Mas... mas...

Ele, sente pontadas e falta de ar.
Ela, está em frente ao espelho do banheiro, tirando pequenos pêlos da sobrancelha com uma pinça. Ela rompe o silêncio:

- Quando eu chegar lá eu ligo, tá?

- Filha, mas como assim? Como você sai fazendo o que quer assim?

Ele, está procurando o pacote de aspirinas no armário da cozinha.
Ela, sorri e pisca para si mesma em frente ao espelho. Ela continua:

- Ué pai! Todo mundo faz o que quer, o mundo é assim...

- Não senhora, as pessoas não podem sair por aí fazendo o que querem, todo mundo sabe disso!

- Claro que podem, só fingem que não sabem disso... alguns realmente já esqueceram, mas às vezes deixam de fazer o que gostariam por temer as conseqüências, ou por acreditar que os resultados são perigosos ou por qualquer outro motivo aprendido...

Ele, fica sem conseguir pensar no que dizer.
Ela, anota uma idéia criativa no moleskine.

- Mas filha... – Ele tem voz de súplica – Pensa direitinho... O que vai ser da sua carreira?

Ele, senta no sofá.
Ela, queria poder só abraçá-lo e dizer que tudo vai dar certo, que ela o ama.

BIP BIP

- É outra ligação pai, depois a gente conversa mais tá? Beijo, tchau.

Desliga.

Ele, não sabe mais nada que achava que sabia.
Ela, combina a carona para o aeroporto no dia 18.


14 de setembro de 2008

A gostosa, última participante vencedora do programa "reality-show" mais popular da televisão, está dando uma entrevista:
- Mas então, todos querem saber como está sua vida após o fim do programa, está recebendo muitas propostas?
- Estou.
- Que ótimo...
A gostosa se aproxima da câmera:
- Muitas propostas sim... Mas alguma é de trabalho? Nããooo... Tem proposta pra posar nua isso sim, proposta pra garota de programa ao invés de proposta para apresentadora de programa... Bando de sem-vergonha!
O entrevistador tenta, de forma desajeitada, voltar à concentração e à entrevista:
- Minha Nossa Senhora, quer dizer, a senhora pretende posar nua?
- Ah vai pro inferno você também! Você e aquele desgraçado almofadinha, que mandou aquela idéia de pagar para me tornar virgem novamente e aí pagar, pra tirar a virgindade! Pode uma coisa ridícula dessas?
O entrevistador discretamente sussurra para o câmera "isso é possível?"
A gostosa agora segura a câmera com suas mãos:
- E pára de me chamar de "a gostosa" seu estúpido!

Ops,
Fim

11 de setembro de 2008

O que não está lá

Não há verdades por trás dessas palavras...

As frases me enganaram mais uma vez,
saíram da minha boca
em descontrole.

Não existe alguém falando com essa voz...

Existe uma lamentação,
quase cruel,
de mim mesma.

Não reconheço.
Não me reconheço na falta,
nem na presença.
Sei que sou mais,
muito mais do que estou te mostrando...

Acredite!

Mas não,
ainda não há verdades por trás dessas palavras.


D.A.

8 de setembro de 2008

Mais uma entre tantas

“Nem pensar!” Ela protestou raivosa. O marido sabia por esta reação que deveria parar por aí… Mas não conseguia parar! Não agora! Não mais! Ele virou as costas, pegou a mala e saiu, sem dizer nada. Ela ficou ali, muda. As lágrimas querendo surgir aos montes, mas ela as segurou, com todas as forças.

Dois dias depois não pôde mais contê-las! Chorou até cair no sono, as lágrimas encharcaram o travesseiro. Quando acordou, o rosto estava inchado, se olhou no espelho e percebeu um ar amargurado, um tom acinzentado na pele, ou seria sua expressão? As linhas, as rugas estavam mais evidentes, mas o pior era aquele peso que ela sentia…

O peso não era real, ela tinha consciência, mas as costas doíam constantemente. Já havia tentado de tudo: acupuntura, massagem, relaxante muscular… Agora segurava um cartão de visita que dizia PSIQUIATRA, assim mesmo, com letras enormes. Engoliu seco “mas eu não estou louca!”, falou consigo mesma. As dores como pontadas constantes…

E quando a dor se tornava insuportável, ela reclamava. Reclamava do marido que a abandonara, do filho mais velho que mal falava com ela ao telefone, da vizinha que ia toda feliz para os cursos de costura, da irmã que largara tudo para morar no exterior, do filho mais novo que jogava videogame o dia inteiro… As reclamações não tinham fim! “Porque todos estavam contra ela?”, “Porque ninguém se importava?” ela pensava sem parar.

Chegou um ponto em que tudo fugiu do seu controle, o Psiquiatra lhe dava anti-depressivos e um Ortopedista detectara um câncer na coluna. “Como isso foi me acontecer?” ela pensava se olhando no espelho, vendo as marcas do rosto como vincos profundos, a pele sem vigor, os cabelos ressecados e despenteados… O olhar vago…

“Queria poder voltar no tempo.” pensara… mas… se realmente pudesse voltar no tempo, o que faria de diferente?

TUDO!

POUCO?

Muito por si? Muito pelos outros? Nada de mais?

Ela não sabia.

O relógio marcava 13:36 horas, ela precisava sair para a consulta.

D.A.

23 de agosto de 2008

Darling Nikky

Nikky é só uma garota.
Uma garota como tantas outras.
Mas naquele dia ela não seria só mais uma entre tantas.

Ela acordou e preparou tudo.
Se penteou. Se maquilou.
Saltos altos e batom vermelho.

Nikky disse que se chamava Paula.
Se ele acreditou, não importa.
O nome dele? Ela se esqueceu de perguntar…

Você é especial Nikky.
Você é especial e este é o seu dia.
Ele ficará marcado para sempre.

D.A.

22 de agosto de 2008

Na frente do espelho II

- ENTREVISTA COM COMPUTADOR -

Mas então, qual a sua filosofia de vida?

- Filosofia? Google>Wikipedia>modernamente é uma disciplina, ou uma área de estudos, que envolve a…

Não, não! Como você vê a vida? A existência?

- Existência>Essência>Números? 10101101001

Vamos começar novamente! Fale-me sobre uma pessoa que marcou a sua vida.

- antonio.souza@mail.com.br, programador, instrutor de informática pela escola…

Que tal se falarmos sobre o futuro? Como você imagina que serão os computadores daqui a 100 anos?

- ERRO>A URL solicitada não pode ser recuperada.

D.A.

PS: Espelho, espelho meu, existe alguém mais globalizado do que eu?

Deuses

Os Deuses estavam batendo um papo num lugar bem aconchegante:

Miionginn: No sistema que eu criei os seres inventaram uma forma de movimentar a água e de retirar o sal, para usar em suas necessidades.

Bi: Olha que interessante!

KKoupyye: Verdade! A maioria deles parece passar por essa etapa.

Bi: Exato! E o seu ainda é tão jovem!

Miionginn: Agradeço.

Luuaz: Os meus parecem que continuam naqueles rituais ou códigos de procriação bastante extensos, deu para constatar que existe um grande número que cogita algum tipo de revolução ou mudança, mas acho que demorará a haver algo efetivo.

Miionginn: Entendo. E o seu sistema Bi?

Bi: Continua intrigante… Cada vez mais eles se aproximam da superação das necessidades básicas iniciais e partem para a ruptura corpo-mente.

KKoupyye: Você acha que logo encontrarão A Unidade?

Bi: Parece ser esse o caminho mais provável! Mas claro que ainda é cedo para conclusões.

Miionginn: Que ótimo! Se ocorrer desta forma, torna-se possível que tenhamos uma nova companhia em breve. Viva!

TODOS: VIVA!

KKoupyye: Posso contar algo do meu?

Luuaz: Claro que sim.

KKoupyye: Os seres do meu sistema acessaram a forma de comunicação com o planeta-vasilha deles.

Bi: Excelente! Isso certamente provocará um avanço acelerado na evolução deles.

Luuaz: Lembram-se daquela forma de acesso que ocorreu, onde os seres se comunicavam com o planeta-vasilha, através de manipulação sonora?

Miionginn: Certamente! Foi bastante peculiar.

Jullpuul: Desculpem-me pelo atraso.

Luuaz: Tudo bem?

Jullpuul: Mais ou menos, estou preocupado com o meu sistema… Penso que ao invés de ocorrer um avanço, está acontecendo o contrário.

Bi: Conte-nos.

Jullpuul: Comecei a perceber que, nas últimas eras, o enraizamento de um sistema de compra-venda por uso de objetos de papel, tem tomado conta da vida dos seres mais neuro-complexos, de tal forma que não há mais nenhum movimento, individual ou coletivo, que os leve a se preocuparem com o avanço corpo-mente.

KKoupyye: Talvez seja cedo ainda.

Bi: Sim, talvez. Lembre-se também, que os avanços significativos ocorrem, em sua maioria, após uma ou várias eras bastante obscuras.

KKoupyye: Verdade! Um dos primeiros sistemas de Luuaz quase se destruiu, antes de iniciar uma evolução ruma à Unidade.

Luuaz: Bem lembrado KKoupyye, e foi bastante recompensador após o período de tumulto, pois os seres desenvolveram uma forma de acesso com o planeta-vasilha, onde utilizavam o próprio corpo e a forma de movimentá-lo, aprenderam formas de expressão compostas e desenvolveram uma nova linguagem única entre todos os viventes do sistema.

Jullpuul: Olha só, bastante interessante mesmo! Torço para que ocorra de forma semelhante com o meu.

Miionginn: Bom, voltemos aos nossos sistemas, por enquanto?

Bi: Sim, eles dão mesmo muito trabalho.

KKoupyye: Até o próximo encontro.

TODOS: Até!

D.A.

Os Hóspedes - quarto 108

No hotel da Rua dos Comissionários, no quarto de número 108, está hospedado(a):

- Uma senhora, recém-viúva, de 66 anos.

Porque ela está no hotel?

Porque ainda não conseguiu voltar para a casa desde a morte do marido.

O que ela está fazendo agora?

Dobrando e guardando suas roupas dentro da mala que ela deixa em cima da cama.

Do que ela se lembra?

Do marido a todo momento, lembra-se bastante também do dia em que o filho mais velho bateu a porta do quarto gritando que a odiava. Ele tinha 14 anos na época, hoje tem 48, mas ela sempre se lembra.

Do que ela se esquece?

Ultimamente se esquece bastante das contas para pagar, já que era o marido quem cuidava desses detalhes. Também se esquece de colocar menos sal na comida, mesmo após tantos avisos do médico e percebeu agora que se esqueceu de pintar o cabelo, já consegue ver as raízes brancas crescendo.

Do que ela gosta?

De ver os programas de auditório aos domingos, de pão doce com passas, do abraço dos filhos e de dar presentes aos netos.

Do que ela não gosta?

De comida muito apimentada, de água com gás e de gente que chama as pessoas negras de “moreninhas”.

Se ela pudesse resumir sua vida, numa grande lição para o mundo, qual seria?

Seria para as pessoas falarem mais o que pensam! Primeiro porque ninguém é tão frágil que não possa superar e aprender com o que ouvir e segundo, que ao falar o que pensa é você quem aprende e se supera com a sua verdade.

D.A.

17 de agosto de 2008

Na frente do espelho

- Entrevista com Celebridade -

Você está sozinho, olhando a parede desbotada do quarto e acha que viu um fantasma…
- Como assim?
Ora, usa a sua imaginação! Ou já se esqueceu de como se faz?
- Ah! Uma vez quando eu era criança imaginei que minha cama era um foguete, que iria pra Marte e aí…
Não perca o fio da meada! Voltando!
(Limpando a garganta)
Você está sozinho, olhando a parede desbotada do quarto e acha que viu um fantasma, o que faz?
- Nada.
Nada?
- Nada.
Só isso?
- Sim.
Mas porque? Não sente medo? Desespero? Dúvidas sobre o sentido da existência?
- Hmmm… Não nesse dia.
(Silêncio)
Então existem dias em que você é tomado por esse tipo de questionamento?
- Ah sim, com certeza.
Conte-nos! Queremos muito saber sobre sua iluminação artística! Inspire-nos!
- Vou dizer tudo! Tudo no meu próximo álbum chamado “Nas ilhas do seu coração”, que será lançado agora em julho, pela gravadora…

D.A.

PS: Espelho, espelho meu… Existe alguém mais talentoso do que eu?

14 de agosto de 2008

Cassiopéia

A guerreira Cassiopéia está à espreita, vigiando em silêncio sua próxima vítima, ela travará uma batalha feroz até a morte. Seu alvo: aquele jornaleiro da esquina que teve a audácia de olhar sua bunda e chamá-la de “delícia” na frente dos outros clientes, enquanto ela comprava o último exemplar de Conan, o Bárbaro.

Cassiopéia invoca a força das 50 ninfas do mar, pedindo sabedoria na hora da batalha. Respira fundo:

- Por favor, o senhor pode me ver o último gibi dos X-Men?

- Claro gracinha! Pra você qualquer coisa!

Uma onda de ódio percorre o seu corpo e Cassiopéia visualiza facilmente a aniquilação daquele ser desprezível, imagina-se retirando uma enorme espada prateada da bainha e, num movimento mais rápido do que a própria sombra, corta a língua do infeliz, “Assim você aprende a não falar bobagens para outras mulheres”, ao virar as costas, as pessoas aplaudiriam sua performance de justiceira implacável.

Cassiopéia pega o gibi e ao virar-se para ir embora, ouve do jornaleiro a frase:

- Nossa, a nora que mamãe pediu a Deus!

O tremor no corpo de nossa guerreira é quase que incontrolável, o esforço necessário para manter a cabeça fria é tremendo, no entanto, contando as moedinhas do troco, Cassiopéia verifica para sua felicidade, que a quantia está errada:

- O troco está errado, o senhor me deu a mais!

- Nossa, uma pessoa honesta nesse mundo! Que raridade!

- Só que eu não lhe devolverei o troco, pegarei para mim como uma pequena consolação pelas atrocidades que sofri neste local e, a partir de amanhã, irei ao jornaleiro da próxima rua, já que ele é um cavalheiro, ao contrário do senhor.

(Silêncio)

O jornaleiro fica sem reação e Cassiopéia deixa o local, triunfante.

Mais uma vez a justiça foi feita, graças a nossa heroína!

D.A.

11 de agosto de 2008

Oráculos em tempo de Globalização

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Madame Naharababa responde suas dúvidas sobre o amor.

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(fazendo análise)


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- Maldita Internet ! ! ! !

D.A.

10 de agosto de 2008

Um dia

Quando eu virei gente grande
eu duvidei de tudo.
Eu errei.
Eu gritei.
Eu chorei.

Quando eu virei gente grande
percebi o abismo que
me rodeia.
O nada saber.
O tudo temer.

Quando eu virei gente grande
quase me esqueci
de quem eu era
como criança.

Quando eu era criança
eu tudo podia,
tudo sabia.
Eu era a própria experiência.
Eu era "um dia quando".

Um dia quando
eu era criança,
percebi
que já tinha crescido.

D.A.

Sótão

Está tudo acabado entre nós!
Ele diz enfático.
- Como assim?
Ela parece não compreender.
- Já disse! Está tudo acabado entre nós.
Ele repete com a mesma ênfase.
- Mas… Sem mim… Você é só você…
Ela olha fundo em seus olhos.
- O que você quer dizer com isso?
Ele pergunta intrigado.
- Quero dizer que sem mim… Você não é nada.
Ela parece tranquila.
- HÁ! É a coisa mais absurda que eu já ouvi! É como… É como se você quisesse dizer que eu preciso de você, que sem você eu sou um… um…
Ele fica sem palavras.
- Completo imbecil? Perdedor? Babaca?
Ela completa ainda mais tranquila.

Ele ficou sério.
- Como você pode falar assim comigo?
Ele se sente acuado.
- Ora bolas, falando! Você bem sabe que eu só falo a verdade, querido… É quase que uma maldição.
Ela acende um cigarro.
- Mas…
Ele começa a chorar.
- Sem mim, querido, você seria só aquele menino assustado e medroso que você era quando nos conhecemos… Quem acreditou em você e te fez crescer? Quem apostou no seu talento e o fez ser reconhecido?
Ela solta a fumaça pelo nariz.
- Mas…
Ele continua chorando.
- Agora vamos querido, pare já com essa ceninha de novela mexicana ou nós nos atrasaremos para a recepção dos Almeida Penteado, eles compraram uma mansão enorme e chiquérrima que pertenceu à…
Ela continua falando.

Ele vai até o sótão e pega a arma.

D.A.

4 de agosto de 2008

Te faria

De rodopios, de galanteios... De promessas
e de desejos te formei em mim.
Nos lábios, no abraço e no escuro do
cinema, seu cheiro e a crença em
Todos nós! Criaria outros tantos. Recriaria.
Te faria igual em todos os sentidos... todos
menos um.
Te faria igual em todos os sentidos menos
no sentido que me fiz em você, pois te fiz
importante demais!
Você me aprisionou no amor por você.
De danças no lençol, de olhos na lua e nas
estrelas e no desequilíbrio dos nossos eixos...
Te faria inteiramente novo.
E novamente te amaria.

Daniela Alves

31 de julho de 2008

Carta

Quando eu percebi o que seria te perder... Foi aí que tudo mudou.

Me desculpe, por favor me desculpe sinceramente por trazer esse assunto à tona depois de tanto tempo, acho horrível...

Foi no dia que senti ciúmes pela primeira vez, e acho isso péssimo, me sinto mal de falar isso porque é vergonhoso, mas naquele dia eu senti algo muito ruim: senti medo.

Medo de não te ter, de você me deixar ou de se interessar por outra pessoa, aquilo me deixou tão mal e isso me assustou. Me assustei com o medo que sentia de te perder.

Depois daquele dia, foi como se meus olhos tivessem sido trocados, eu só via na minha frente o medo de te perder.

Por isso tive que te deixar.

Sei que provavelmente você deve pensar que isso tudo é a coisa mais ridícula do mundo, novamente me desculpe. No dia em que caiu a ficha... No dia em que, num devaneio meditativo, percebi a realidade como um livro aberto, senti tanta vergonha que fiquei um grande tempo muito mal, por isso eu acho que só agora tomei a coragem de te falar isso.

Durante muito tempo eu realmente não sabia a verdadeira razão de ter me afastado de você, talvez você não acredite, mas essa é a verdade.

A verdade é essa.

E a verdade é que você acendeu uma chama em mim, algo que ninguém nunca havia feito. Você acendeu minha vontade pelo criativo, você me deu fome por liberdade.

Liberdade agora significa não ter medo de experimentar, de ousar, de criar e de acreditar nos sonhos mais loucos, no lado mais selvagem e primitivo até. Isso tudo é você.

Essa sua luz agora me acompanha como uma tatuagem, silenciosa mas atenta, me faz querer sempre mais, me faz viver cada dia!

E agora?

Agora, tudo o que eu chorei e me arrependi eu devo deixar para trás, não posso mais viver com o sentimento de culpa. Você é a coisa mais maravilhosa que já me aconteceu, obrigada por tudo.

Obrigada de verdade!

De quem sempre te amará,

Dani

28 de julho de 2008

Provocação necessária

Você tem cuidado de você?
A princípio parece uma pergunta tola.
Mas é essencial.
Quanta gente não tem cuidado de si. Quanta gente vivendo do passado, de mágoas, ressentimentos…
E toda essa gente sentindo a mesma coisa: medo, desamparo, frustração, angústia…
Coincidência?
Acho que não.

Você tem cuidado de você?
Ou tem esperado algo dos outros? Esperado que os outros te notem, te apóiem, te aceitem…
Você enfrenta seus medos ou vai esperar por alguém que faça isso por você?
Você se faz de coitado para obter facilidades e atenção dos outros?
Isso só faz inflar seu orgulho bobo e te deixar ainda mais frágil.
Só sabe fazer colocar a culpa nos outros, no mundo, na vida, por tudo de ruim que você sente?
A culpa é toda sua!

Você tem cuidado de você?
Ou tem vivido mais na fantasia que na realidade?
Eu nada tenho contra a fantasia, devo dizer, mas é preciso saber que é apenas isso…
Mas vejo tanta gente que não sabe esperar pra ver a realidade do outro, já fantasia que o outro é o alguém “mágico” que irá transformar tudo que você conhece pra melhor.
Quem transforma sua vida é você!

Você tem cuidado de você?
Ou é só mais um entre tantos, que se ofende facilmente com o que os outros dizem.
Você é tão frágil assim?
Quando você vai dar força pra você? Quando você vai se apoiar?
Quando vai parar de escutar tanto os outros e ouvir a sua voz?
Se você continuar se fechando… Se fechando pelo medo do que os outros podem pensar…
Vai acabar se fechando também para todas as possibilidades maravilhosas da vida!

Você tem cuidado de você?
Ou vive por aí como um zumbi, como um sonâmbulo? Agarrado ao passado, sentindo culpa?
Vai continuar dando atenção ao passado ou vai viver a vida agora?
O poder está no agora!
Deixe esses pesos do passado finalmente para trás e caminhe livre no mundo! Se ame. Se respeite.
Deixe o orgulho de lado e perceba, de uma vez por todas, que você não precisa ser certinho, não precisa fingir ser o que não é.
Dentro de você está a espontaneidade, a alegria, vontade de fazer coisas, a criatividade, a aventura!
Basta olhar. Basta dar crédito para si.

Você tem cuidado de você?
É capaz de caminhar com os próprios pés e de se responsabilizar por suas escolhas?
Vai virar gente grande ou vai continuar dependente como uma criança?
Caminhe livre no mundo!
As coisas acontecem, pessoas passam por nós, família, amigos, relacionamentos… Tudo que não deixará nunca de existir… Mas podemos aprender a não nos agarrar às idéias fantasiosas sobre o outro, basta ouvir a nossa voz e respeitá-la.
Quem se respeita é respeitado.
Aquele que abusa só o faz porque o abusado permite.

Você tem cuidado de você?
Ou vive se responsabilizando pelos outros?
Doente, fraco, sem energia, sem paciência, irritado… Se não é capaz de cuidar nem de si mesmo, acha que tem cacife pra cuidar de alguém?
Você se agarra às pessoas porque tem medo de ficar sozinho? Quem não se conhece e não se respeita já está sozinho.
Busque a sua voz no fundo da sua alma e escute-a. Ela clama por liberdade!

UM DIA AS PESSOAS VÃO ACORDAR, VÃO PARAR DE SER VÍTIMAS E DE JOGAR A CULPA NOS PAIS E NOS OUTROS E VÃO VIRAR ADULTOS, E ENTÃO COMEÇARÃO A VIVER SUA PRÓPRIA VIDA.

Olá desconhecido,

Esta carta é para alguém que não conheço.
Hoje quando levantei e tomei o meu café da manhã, pensei no que você estaria fazendo no mesmo minuto...
Enquanto estou tomando banho e ensaboando o meu pé direito, você está questionando suas atitudes perante a vida?
Profundo...
Ontem fiz um poema tentando descrever a sensação que tenho, quando o sol está batendo no meu rosto e uma brisa fresca contrasta e intensifica cada inspiração. Não sei se consegui.
Você já viu formas nas manchas da lua cheia?
Senhor ou senhora que nunca vi, te desejo olhos atentos, alma leve e histórias para contar às crianças, para todo o sempre e mais um dia.

Ass. Desconhecida

23 de julho de 2008

Secretária

A nova secretária entrou mascando chiclete de forma a fazer um barulho alto:
- Dr. César, um tal de Dr. Márcio Freitas pediu pro senhor ligar pra ele o quanto antes, parece ser algo sobre a filha dele…
Ele parou e deu uma boa olhada nela. Linda, jovem, cinturinha fina, pernas, bunda e sorrisinho de garota metida, o pacote completo.
- Bom dia! Qual seu nome princesa? – Ele já estava babando.
- Ana. Meu nome é Ana doutor.
Ele se surpreendeu pela simplicidade do nome, ultimamente as meninas têm todas nomes estranhos com pretensão de internacionalidade, como Daiane, Kelly e outras coisas horrorosas.
- Ana você caiu do céu!
Ela fez cara de desdém:
- Ah claro, é o que dizem. – Virou a folha do bloquinho de notas feito com papel cor-de-rosa, coisas da antiga secretária, uma bonequinha meia patricinha, meia ninfomaníaca, que o Dr. César se gabava com os amigos de ter comido várias e várias vezes.
- Chegue mais perto Ana, eu não mordo.
Ela fez cara de tédio e se aproximou fazendo ainda mais barulho com o mascar do chiclete.
- Também sua esposa, pediu para que o senhor chegue para o jantar às 07:00 horas, pois seu sogro e sua sogra estarão lá em visita…
Aquilo quase destruiu qualquer possibilidade de ereção pelo resto do dia, mas ele decidiu não se abalar. Levantou e rodou em volta da secretária, sem tirar o olho de suas curvas e aproveitando para perceber o perfume que ele usava. O perfume diz muito sobre a mulher, ele pensava.
Nada de perfume, somente creme corporal, ele sabe o que significa e nem lembra mais dos sogros e do jantar.
- Quantos anos você tem Ana? Dezesseis?
Ela olha para ele como uma professora para o aluno barulhento e atrasado da turma.
- Vinte e um Dr. César, você se lembra de ter me entrevistado para a vaga?
Ela joga o bloquinho cor-de-rosa em cima da mesa e cruza os braços.
Ele acha que é um sinal, o momento certo. A oportunidade! Puxa-a por trás, pela cintura, fazendo-a arquear as costas, empinando a bunda e apoiando as mãos na mesa numa cena irresistível. Ele começa a abrir o cinto da calça em êxtase, quando ela diz:
- Ora ora por favor, eu não vou trepar com o senhor Dr. César! – uma leve risadinha escapa de seus lábios - Leia o resto dos recados sozinho pra num ficar tendo idéias… Eu saio pro almoço às 12 horas em ponto e faço uma hora e meia, entendeu? Uma hora e meia. Não me peça explicações por que não dou. Não trabalho aos fins-de-semana sob nenhuma condição e emendo todos os feriados.
Ela rapidamente foi até a porta, mas saindo da sala ainda falou:
- Ah! E uso as roupas que eu quiser!
Fechou a porta.
Dr. César sentou na cadeira, o cinto solto e uma leve falta de ar.
A essa altura, ele já estava apaixonado por ela.

21 de julho de 2008

Hoje à noite

Essa noite vou sair pra dançar.
Vou me perder na música,
Vou me divertir.
Sozinha...

Escolhi o vestido,
Me maquilei e até cantei
Na frente do espelho!
Hoje não quero conversar,
Só dançar.

Essa noite vou sair pra dançar.
Vou fechar os olhos,
Vou apenas ouvir o som.
Sozinha...

Luzes e cores no ar.
Vibração.

Essa noite,
Sozinha.
Mas se você aparecer,
Tudo bem...
Dança comigo.

Luzes e cores no seu rosto,
Seu gosto...
Dança comigo.