“Nem pensar!” Ela protestou raivosa. O marido sabia por esta reação que deveria parar por aí… Mas não conseguia parar! Não agora! Não mais! Ele virou as costas, pegou a mala e saiu, sem dizer nada. Ela ficou ali, muda. As lágrimas querendo surgir aos montes, mas ela as segurou, com todas as forças.
Dois dias depois não pôde mais contê-las! Chorou até cair no sono, as lágrimas encharcaram o travesseiro. Quando acordou, o rosto estava inchado, se olhou no espelho e percebeu um ar amargurado, um tom acinzentado na pele, ou seria sua expressão? As linhas, as rugas estavam mais evidentes, mas o pior era aquele peso que ela sentia…
O peso não era real, ela tinha consciência, mas as costas doíam constantemente. Já havia tentado de tudo: acupuntura, massagem, relaxante muscular… Agora segurava um cartão de visita que dizia PSIQUIATRA, assim mesmo, com letras enormes. Engoliu seco “mas eu não estou louca!”, falou consigo mesma. As dores como pontadas constantes…
E quando a dor se tornava insuportável, ela reclamava. Reclamava do marido que a abandonara, do filho mais velho que mal falava com ela ao telefone, da vizinha que ia toda feliz para os cursos de costura, da irmã que largara tudo para morar no exterior, do filho mais novo que jogava videogame o dia inteiro… As reclamações não tinham fim! “Porque todos estavam contra ela?”, “Porque ninguém se importava?” ela pensava sem parar.
Chegou um ponto em que tudo fugiu do seu controle, o Psiquiatra lhe dava anti-depressivos e um Ortopedista detectara um câncer na coluna. “Como isso foi me acontecer?” ela pensava se olhando no espelho, vendo as marcas do rosto como vincos profundos, a pele sem vigor, os cabelos ressecados e despenteados… O olhar vago…
“Queria poder voltar no tempo.” pensara… mas… se realmente pudesse voltar no tempo, o que faria de diferente?
TUDO!
POUCO?
Muito por si? Muito pelos outros? Nada de mais?
Ela não sabia.
O relógio marcava 13:36 horas, ela precisava sair para a consulta.
D.A.
Believer
Há um ano

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