20 de outubro de 2008

Do Coração

Alguma coisa em que acreditar.
Por um momento,
um instante.
Por uma eternidade.

Alguma coisa em que se espelhar.
Um mundo, uma nação,
uma vida.
Uma mão.

Algum instante de união...
Que alma, que preciosidade pode testemunhar
a vida?

Algo comum no mais estranho dia
dessa existência.

6 de outubro de 2008

Conto de Fadas moderno...

O casal está sozinho.
Empolgados, respiração acelerada...
Ele fala:
- Vamos amor, chegou a hora!
- Será? Ai espera... tô nervosa...
- Nervosa? Mas amorzinho eu te adoro, a gente já confia um no outro...
- A... acho que sim... mas é que tem que pensar bem, não é assim...

Enquanto ela está confusa e com medo, ele está decidido, esperou muito por esse momento.

- Vamos lá minha lindinha, confia em mim...
- Calma, calma...

Ele está com a caneta na mão, querendo assinar e ela relutante, achava que tinha que ter mais certeza.

O contrato da compra do apartamento nunca saiu.

D.A.

26 de setembro de 2008

Ela sempre esteve aqui

O medo da morte é também o medo
da solidão.
Quando a sua hora chegar
(E ela sempre chega)
Você irá sozinho.

Se você se machucar gravemente,
E a morte te visitar,
Somente você a verá.

Se você estiver num leito de hospital,
E ela chegar,
Somente você ela levará.

Por mais que as pessoas à sua volta
queiram de alguma forma
te ajudar,
Você estará sozinho.

Não há como prever
o que se passará...
Apesar de tantos tentarem.

Não há como levar algo
ou alguém,
para conversar.

Sozinho.

Por isso, não tema a solidão.

Sinta-se desde já,
confortável nela.

D.A.

24 de setembro de 2008

Dia 18

O pai não consegue evitar gritar ao telefone com a filha:

- O QUE? Como assim você vai largar o emprego e virar garçonete em Cancun?

Ele, sente pontadas no peito.
Ela, desenha margaridas na borda do caderno.

- Ah... É isso aí pai... já vendi o resto das móveis do apê e comprei hoje a passagem... é pro dia 18.

- Mas... mas...

Ele, sente pontadas e falta de ar.
Ela, está em frente ao espelho do banheiro, tirando pequenos pêlos da sobrancelha com uma pinça. Ela rompe o silêncio:

- Quando eu chegar lá eu ligo, tá?

- Filha, mas como assim? Como você sai fazendo o que quer assim?

Ele, está procurando o pacote de aspirinas no armário da cozinha.
Ela, sorri e pisca para si mesma em frente ao espelho. Ela continua:

- Ué pai! Todo mundo faz o que quer, o mundo é assim...

- Não senhora, as pessoas não podem sair por aí fazendo o que querem, todo mundo sabe disso!

- Claro que podem, só fingem que não sabem disso... alguns realmente já esqueceram, mas às vezes deixam de fazer o que gostariam por temer as conseqüências, ou por acreditar que os resultados são perigosos ou por qualquer outro motivo aprendido...

Ele, fica sem conseguir pensar no que dizer.
Ela, anota uma idéia criativa no moleskine.

- Mas filha... – Ele tem voz de súplica – Pensa direitinho... O que vai ser da sua carreira?

Ele, senta no sofá.
Ela, queria poder só abraçá-lo e dizer que tudo vai dar certo, que ela o ama.

BIP BIP

- É outra ligação pai, depois a gente conversa mais tá? Beijo, tchau.

Desliga.

Ele, não sabe mais nada que achava que sabia.
Ela, combina a carona para o aeroporto no dia 18.


14 de setembro de 2008

A gostosa, última participante vencedora do programa "reality-show" mais popular da televisão, está dando uma entrevista:
- Mas então, todos querem saber como está sua vida após o fim do programa, está recebendo muitas propostas?
- Estou.
- Que ótimo...
A gostosa se aproxima da câmera:
- Muitas propostas sim... Mas alguma é de trabalho? Nããooo... Tem proposta pra posar nua isso sim, proposta pra garota de programa ao invés de proposta para apresentadora de programa... Bando de sem-vergonha!
O entrevistador tenta, de forma desajeitada, voltar à concentração e à entrevista:
- Minha Nossa Senhora, quer dizer, a senhora pretende posar nua?
- Ah vai pro inferno você também! Você e aquele desgraçado almofadinha, que mandou aquela idéia de pagar para me tornar virgem novamente e aí pagar, pra tirar a virgindade! Pode uma coisa ridícula dessas?
O entrevistador discretamente sussurra para o câmera "isso é possível?"
A gostosa agora segura a câmera com suas mãos:
- E pára de me chamar de "a gostosa" seu estúpido!

Ops,
Fim

11 de setembro de 2008

O que não está lá

Não há verdades por trás dessas palavras...

As frases me enganaram mais uma vez,
saíram da minha boca
em descontrole.

Não existe alguém falando com essa voz...

Existe uma lamentação,
quase cruel,
de mim mesma.

Não reconheço.
Não me reconheço na falta,
nem na presença.
Sei que sou mais,
muito mais do que estou te mostrando...

Acredite!

Mas não,
ainda não há verdades por trás dessas palavras.


D.A.

8 de setembro de 2008

Mais uma entre tantas

“Nem pensar!” Ela protestou raivosa. O marido sabia por esta reação que deveria parar por aí… Mas não conseguia parar! Não agora! Não mais! Ele virou as costas, pegou a mala e saiu, sem dizer nada. Ela ficou ali, muda. As lágrimas querendo surgir aos montes, mas ela as segurou, com todas as forças.

Dois dias depois não pôde mais contê-las! Chorou até cair no sono, as lágrimas encharcaram o travesseiro. Quando acordou, o rosto estava inchado, se olhou no espelho e percebeu um ar amargurado, um tom acinzentado na pele, ou seria sua expressão? As linhas, as rugas estavam mais evidentes, mas o pior era aquele peso que ela sentia…

O peso não era real, ela tinha consciência, mas as costas doíam constantemente. Já havia tentado de tudo: acupuntura, massagem, relaxante muscular… Agora segurava um cartão de visita que dizia PSIQUIATRA, assim mesmo, com letras enormes. Engoliu seco “mas eu não estou louca!”, falou consigo mesma. As dores como pontadas constantes…

E quando a dor se tornava insuportável, ela reclamava. Reclamava do marido que a abandonara, do filho mais velho que mal falava com ela ao telefone, da vizinha que ia toda feliz para os cursos de costura, da irmã que largara tudo para morar no exterior, do filho mais novo que jogava videogame o dia inteiro… As reclamações não tinham fim! “Porque todos estavam contra ela?”, “Porque ninguém se importava?” ela pensava sem parar.

Chegou um ponto em que tudo fugiu do seu controle, o Psiquiatra lhe dava anti-depressivos e um Ortopedista detectara um câncer na coluna. “Como isso foi me acontecer?” ela pensava se olhando no espelho, vendo as marcas do rosto como vincos profundos, a pele sem vigor, os cabelos ressecados e despenteados… O olhar vago…

“Queria poder voltar no tempo.” pensara… mas… se realmente pudesse voltar no tempo, o que faria de diferente?

TUDO!

POUCO?

Muito por si? Muito pelos outros? Nada de mais?

Ela não sabia.

O relógio marcava 13:36 horas, ela precisava sair para a consulta.

D.A.